sexta-feira, janeiro 25, 2008

Contra o céu


“A terra é exígua, suja, monótona e povoada, mais do que o necessário, de pequenos pedaços de barro falante que a desfiguram e tornam mais repugnante ainda.
Mas aqui sentimo-nos em casa, senhores para fazer e desfazer, para nos movermos à vontade. O céu, porém, está distante, afastado e imodificável, hostil. Não temos poder sobre o céu.
Mas o que eu odeio mais ferozmente é o céu superior, é o firmamento. Tolero o sol bestial, com o seu rosto de fogo cheio de manchas, por causa da sua utilidade; mas a noite, as estrelas!!! O infinito não me atemoriza; desagrada-me e ofende-me. Para sofrer a humilhação da minha pequenez, bastava a Terra. A provocação do céu estrelado é desproporcionada, prepotente, vergonhosa. Aqueles dois milhões de sois que aparecem aos meus olhos, como átomos desordenados de luz eléctrica – que têm a ver comigo? Que querem? Para que me servem? Porque tornam, todas as noites, chamas milenares a insultar a brevidade dos meus dias neste recanto vazio? O céu é uma injuria perpétua e insuportável. As estrelas não me conhecem e eu nunca poderei fazer qualquer coisa com elas ou contra elas. Quando penso em quantos milhões de anos-luz distam de mim e quantos séculos emprega a sua claridade para chegar à Terra, nada mais faço do que dar forma aritmética à minha raiva.
Não compreendo os astrónomos. Como é que nenhum deles fica doido nem suicida? Imagino que são homens sem fantasia e sem dignidade, incapazes de sentir o insulto permanente das constelações refugiadas nos fundos dos desertos do espaço.
Os poetas, idiotas como crianças, extasiam-se diante dos vaga lumes errantes do infinito.
O céu é apenas o velário sinistro onde leio todas as noites a sentença irremediável da minha nulidade.”

(GOG)

1 comentário:

Anónimo disse...

O Céu, aquele Sítio e,não aquele WWW.
Se foi Deus que o criou, ou o homem pouco importa.O Céu,não se define, sente-se...,
adri7