quarta-feira, novembro 19, 2008

sexta-feira, setembro 19, 2008

sexta-feira, abril 04, 2008

A relação



Qual é a sua relação com os objectos, com as inúmeras coisas que o rodeiam e com as quais lida diariamente? Como a cadeira onde se senta, a caneta, o carro, a chávena? São meras coisas que se usam como um meio para alcançar um fim, ou ocasionalmente, reconhece a existência delas, a entidade que elas são, ainda que o faça por breves instantes, qunado repara nelas e lhes presta atenção?

Se nos prendermos muito aos objectos, se os utlizarmos para nos valorizar aos nossos olhos e aos olhos dos outros, a preocupação com as coisas materiais poderá facilmente tomar conta da nossa vida.
Quando existe uma auto-identificação com os objectos, não os apreciamos por aquilo que eles são, mas procuramo-nos neles.

Mas se se apreciar um objecto pelo que ele é, se se reconhecer a entidade que ele é sem projecções mentais, não poderá deixar de se sentir grato pela sua existência. Chegará também a pressentir que o objecto não é de facto inanimado, apenas aparenta sê-lo. Os cientistas asseguram que, a nivel molecular, os objectos são, de facto, um campo de energia vibrante.

Através da apreciação desinteressada do reino das coisas materiais, o mundo à nossa volta ganhará vida de uma forma que não imaginamos nem poderemos compreender com a mente.

Sempre que nos relacionamos com alguém, ainda que por pouco tempo, prestamos-lhe total atenção, reconhecendo assim o ser que essa pessoa é? Ou reduzimos a pessoa a um meio para atingir um fim, a uma mera função utilitária?

Que qualidade tem o meu relacionamento com o caixa do supermercado, com o guarda do parque de estacionamento, com o canalizador, com o cliente?

Basta um momento de atenção. Enquanto olhamos para eles ou ouvimos o que dizem, existe uma serenidade desperta - durante dois ou tres segundos, ou talvez mais. Isso é suficiente para que disperte alguma coisa de mais real do que os papeis que assumimos habitualmente e com os quais nos identificamos. Todos esses papeis são uma parte da consciencia condicionada que é a mente humana. O que emerge aravés do acto de prestar atenção é o não condicionamento, a nossa verdadeira identidade, que se encontra por trás do nosso nome ou do nosso corpo. Quando isto acontece, já não estamos a representar um papel de um guião, tornamo-nos reais. Quando a verdadeira identidade emerge de dentro de nós, o mesmo acontece com a da outra pessoa.

Em última análise, claro, o outro não existe e, na verdade, estamos sempre a encontrar-nos connosco próprios.

(Eckhart Tolle)

terça-feira, março 18, 2008

sexta-feira, janeiro 25, 2008

Filomania


“Não se alcançou a verdade, o homem é cada vez mais infeliz, e a Filosofia, que devia ser, segundo os antigos farsantes gregos, a coroa da sabedoria, retorce-se entre as contradições ou confessa a sua impotência. Os dois malfeitores, foram castigados logo no princípio – Sócrates com o veneno, Platão com a escravidão – mas não foi suficiente. Eles envenenaram e aprisionaram oitenta gerações com os seus ensinamentos pestilenciais.
O exercício teimoso e estéril da razão, levou ao cepticismo, ao nulismo, ao tédio, ao desespero.
Na idade moderna, os filósofos mais lúcidos refugiaram-se na loucura: Rousseau, Comte e Nietzsche morreram loucos.
Eis o segredo da redenção. Se a inteligência leva à dúvida ou à falsidade, é de presumir que a insensatez, por idêntica lei, conduza à certeza e à luz. Se o excesso de raciocínio leva, não à conquista da verdade, mas à loucura, é claro que é preciso partir da loucura para chegar a uma racionalidade superior, que resolverá os enigmas do mundo.
A Filosofia – amor à sabedoria – precisa de ser substituída pela Filomania, amor à loucura. Mas a loucura não se ensina, como pode se pode ensinar a lógica e a ciência do método. É necessário desabituar os cérebros humanos das práticas nefastas do velho racionalismo. Não basta abolir o culto desastroso da inteligência; é preciso extirpar das nossas mentes os tumores do intelectualismo, a claridade, o bom sentido, a mania indutiva e dedutiva, o intelecto.
Quem quiser ascender ao céu superior da revelação interna e universal deve, antes de mais nada, enlouquecer.”

(Rabah Tehom)

Contra o céu


“A terra é exígua, suja, monótona e povoada, mais do que o necessário, de pequenos pedaços de barro falante que a desfiguram e tornam mais repugnante ainda.
Mas aqui sentimo-nos em casa, senhores para fazer e desfazer, para nos movermos à vontade. O céu, porém, está distante, afastado e imodificável, hostil. Não temos poder sobre o céu.
Mas o que eu odeio mais ferozmente é o céu superior, é o firmamento. Tolero o sol bestial, com o seu rosto de fogo cheio de manchas, por causa da sua utilidade; mas a noite, as estrelas!!! O infinito não me atemoriza; desagrada-me e ofende-me. Para sofrer a humilhação da minha pequenez, bastava a Terra. A provocação do céu estrelado é desproporcionada, prepotente, vergonhosa. Aqueles dois milhões de sois que aparecem aos meus olhos, como átomos desordenados de luz eléctrica – que têm a ver comigo? Que querem? Para que me servem? Porque tornam, todas as noites, chamas milenares a insultar a brevidade dos meus dias neste recanto vazio? O céu é uma injuria perpétua e insuportável. As estrelas não me conhecem e eu nunca poderei fazer qualquer coisa com elas ou contra elas. Quando penso em quantos milhões de anos-luz distam de mim e quantos séculos emprega a sua claridade para chegar à Terra, nada mais faço do que dar forma aritmética à minha raiva.
Não compreendo os astrónomos. Como é que nenhum deles fica doido nem suicida? Imagino que são homens sem fantasia e sem dignidade, incapazes de sentir o insulto permanente das constelações refugiadas nos fundos dos desertos do espaço.
Os poetas, idiotas como crianças, extasiam-se diante dos vaga lumes errantes do infinito.
O céu é apenas o velário sinistro onde leio todas as noites a sentença irremediável da minha nulidade.”

(GOG)

sábado, dezembro 08, 2007

Menino Jesus


A Criança Nova que habita onde vivo

Dá-me uma mão a mim

E a outra a tudo o que existe

E assim vamos os três pelo caminho que houver


A criança Eterna acompanha-me sempre.

A direcção do meu olhar é o seu dedo apontando.

O meu ouvido atento alegremente a todos os sons

São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.


(Fernando Pessoa/Alberto Caeiro)


Baptismo do Gonçalo 02 Dez. 2007