sexta-feira, janeiro 25, 2008

Filomania


“Não se alcançou a verdade, o homem é cada vez mais infeliz, e a Filosofia, que devia ser, segundo os antigos farsantes gregos, a coroa da sabedoria, retorce-se entre as contradições ou confessa a sua impotência. Os dois malfeitores, foram castigados logo no princípio – Sócrates com o veneno, Platão com a escravidão – mas não foi suficiente. Eles envenenaram e aprisionaram oitenta gerações com os seus ensinamentos pestilenciais.
O exercício teimoso e estéril da razão, levou ao cepticismo, ao nulismo, ao tédio, ao desespero.
Na idade moderna, os filósofos mais lúcidos refugiaram-se na loucura: Rousseau, Comte e Nietzsche morreram loucos.
Eis o segredo da redenção. Se a inteligência leva à dúvida ou à falsidade, é de presumir que a insensatez, por idêntica lei, conduza à certeza e à luz. Se o excesso de raciocínio leva, não à conquista da verdade, mas à loucura, é claro que é preciso partir da loucura para chegar a uma racionalidade superior, que resolverá os enigmas do mundo.
A Filosofia – amor à sabedoria – precisa de ser substituída pela Filomania, amor à loucura. Mas a loucura não se ensina, como pode se pode ensinar a lógica e a ciência do método. É necessário desabituar os cérebros humanos das práticas nefastas do velho racionalismo. Não basta abolir o culto desastroso da inteligência; é preciso extirpar das nossas mentes os tumores do intelectualismo, a claridade, o bom sentido, a mania indutiva e dedutiva, o intelecto.
Quem quiser ascender ao céu superior da revelação interna e universal deve, antes de mais nada, enlouquecer.”

(Rabah Tehom)

Contra o céu


“A terra é exígua, suja, monótona e povoada, mais do que o necessário, de pequenos pedaços de barro falante que a desfiguram e tornam mais repugnante ainda.
Mas aqui sentimo-nos em casa, senhores para fazer e desfazer, para nos movermos à vontade. O céu, porém, está distante, afastado e imodificável, hostil. Não temos poder sobre o céu.
Mas o que eu odeio mais ferozmente é o céu superior, é o firmamento. Tolero o sol bestial, com o seu rosto de fogo cheio de manchas, por causa da sua utilidade; mas a noite, as estrelas!!! O infinito não me atemoriza; desagrada-me e ofende-me. Para sofrer a humilhação da minha pequenez, bastava a Terra. A provocação do céu estrelado é desproporcionada, prepotente, vergonhosa. Aqueles dois milhões de sois que aparecem aos meus olhos, como átomos desordenados de luz eléctrica – que têm a ver comigo? Que querem? Para que me servem? Porque tornam, todas as noites, chamas milenares a insultar a brevidade dos meus dias neste recanto vazio? O céu é uma injuria perpétua e insuportável. As estrelas não me conhecem e eu nunca poderei fazer qualquer coisa com elas ou contra elas. Quando penso em quantos milhões de anos-luz distam de mim e quantos séculos emprega a sua claridade para chegar à Terra, nada mais faço do que dar forma aritmética à minha raiva.
Não compreendo os astrónomos. Como é que nenhum deles fica doido nem suicida? Imagino que são homens sem fantasia e sem dignidade, incapazes de sentir o insulto permanente das constelações refugiadas nos fundos dos desertos do espaço.
Os poetas, idiotas como crianças, extasiam-se diante dos vaga lumes errantes do infinito.
O céu é apenas o velário sinistro onde leio todas as noites a sentença irremediável da minha nulidade.”

(GOG)