quarta-feira, janeiro 17, 2007

RECONHECIMENTO


"114.000.000 De anos atrás…
Alguns minutos após amanhecer, a primeira flor do mundo desabrocha para acolher os raios de Sol.
A primeira flor não deve ter sobrevivido muito tempo, e as flores devem ter permanecido fenómenos raros e isolados, uma vez que as condições à face da Terra não eram favoráveis a um florescimento mais amplo.
Um dia, porém, foi atingido o limiar critico e, de súbito, deve ter-se dado uma explosão de cores e fragrâncias por todo o planeta - se houvesse uma consciência perceptiva presente para a testemunhar.
Muito mais tarde, estas delicadas criaturas iriam desempenhar um papel crucial na evolução da consciência de outra espécie. Os seres humanos foram-se sentindo cada vez mais atraídos e fascinados por elas. À medida que a sua consciência se desenvolvia, as flores devem ter sido a primeira coisa sem fins utilitários a ser apreciada pelos seres humanos, isto é, sem estar relacionada com a sua sobrevivência. Tornaram-se fonte de inspiração para inúmeros artistas poetas e místicos. Jesus diz-nos para contemplar as flores e aprender com elas a viver. Diz-se que Buda deu uma vez um sermão em silêncio, durante o qual pegou numa flor e a contemplou. Algum tempo depois, um dos presentes começou a sorrir. Diz-se que foi ele o único a compreender o sermão.

Ver a beleza numa flor conseguia despertar os seres humanos, mesmo que por um breve momento, para a beleza que faz parte integrante da sua essência mais profunda, da sua verdadeira natureza. O primeiro reconhecimento de beleza, foi um dos acontecimentos mais importantes na evolução da consciência humana. Os sentimentos de alegria e amor estão intrinsecamente ligados com esse reconhecimento. Sem estarmos conscientes disso, as flores tornar-se-iam para nós uma expressão corpórea daquilo que é mais elevado, mais sagrado e, em última análise, daquilo que não tem forma dentro de nós próprios. As flores, que são mais efémeras, mais etéreas e mais delicadas do que as plantas de onde emergem, tornar-se-iam uma espécie de mensageiras de uma outra dimensão, uma ponte entre o mundo das formas físicas e o mundo sem forma. Não só tinham um aroma delicado, como também exalavam uma fragrância do reino do espírito. Se empregarmos a palavra “iluminação” num sentido mais abrangente do que o aceite convencionalmente, podemos olhar para as flores como a iluminação das plantas.

É possível qualquer forma de vida, de qualquer reino – mineral, vegetal, animal ou humano -, passar por uma experiência de “iluminação”. Contudo, é um acontecimento muitíssimo raro, pois representa mais do que um progresso evolucionário: também implica uma descontinuidade no seu desenvolvimento, um salto para um nível completamente diferente do Ser e, acima de tudo, um desprendimento da materialidade.

O que pode ser mais impenetrável e pesado do que uma rocha, a mais densa das formas? Não obstante, algumas rochas sofrem uma mudança na sua estrutura molecular, transformando-se em cristais, e por conseguinte, tornam-se transparentes à luz. Alguns carbonos, sob um calor e uma pressão incríveis tornam-se em diamantes, e alguns minerais pesados noutras pedras preciosas.
A alguns repteis, cresceram penas e asas, transformando-se em aves, desafiando a força da gravidade. Não desenvolveram novas formas de rastejar ou andar, transcenderam completamente estes tipos de locomoção.

Desde tempos imemoráveis, as flores, os cristais, as pedras preciosas e os pássaros têm ocupado um lugar especial no espírito humano. Como todas as formas de vida, são evidentemente manifestações temporárias da Vida única essencial, da Consciência única.

O seu significado especial e a razão pela qual os seres humanos sentiram tamanho fascínio e afinidade por elas podem ser atribuídos à sua natureza etérea.
Quando existe um certo nível da Presença, paz e atenção consciente na percepção de um ser humano, este é capaz de sentir a essência divina da vida, a consciência única ou o espírito único que habita dentro de todas as criaturas e formas de vida, reconhecendo-a como una com a sua própria essência, e sendo por isso, capaz de a amar como a si próprio. Contudo até ser atingido este nível de reconhecimento consciente, a maior parte dos seres humanos vê apenas as formas exteriores, sem ter consciência de essência interior, nem da sua própria essência, identificando-se apenas coma sua forma física e psicológica. Porém, no caso das flores, cristais, pedras preciosas ou pássaros, mesmo um ser humano com pouca ou nenhuma Presença, é capaz de sentir ocasionalmente que há mais alguma coisa para além da mera existência física dessa forma, sem saber que este é o motivo pelo qual é atraído por ela e pela qual sente uma afinidade."
In (Um Novo Mundo)

domingo, janeiro 07, 2007