segunda-feira, outubro 30, 2006

EGO AMIGO


As cinco etapas da formação do ego:

O espírito, no primeiro instante antes do nascimento do ego, é o terreno fundamental da energia pura não dualista. Não há conhecedor nem conhecido, é aberto e solto, sem centro, nem periferia, como o espaço.
O nascimento da ilusão é, antes de mais, o nascimento de uma diferenciação: o espaço começa a ser percepcionado, começa a existir como algo para uma observação que o percepciona, nasce uma distinção. É o início da cisão sujeito-objecto, o nascimento da dualidade.

Consequentemente, esta diferenciação inicial, pode acontecer em relação a qualquer ponto de referência no domínio das diferentes faculdades sensoriais: visual, auditivo, olfactivo, gustativo, táctil e mental.
Esta primeira referencia é chamada de forma. É o primeiro nível do ego.

Uma forma visual, é uma representação qualquer do domínio visual, um contorno, uma referência visível, seja ela qual for. Mas este nível inicial, é uma experiência nua, despojada de conceito, e de qualquer julgamento. É uma visão simples e silenciosa. Uma forma sonora, seria uma vibração, antes da ressonância ser reconhecida, antes de ser nomeada, identificada, antes de ter adquirido um sentido particular.

A segunda etapa é a da sensação. Trata-se de uma tomada de posição em relação à experiência inicial, a da forma. Esta é agora sentida como positiva, negativa ou neutra. Existem assim sensações agradáveis, desagradáveis ou indiferentes. A sensação é simplesmente este primeiro posicionamento, esta primeira impressão.

A terceira etapa diz respeito à identificação, ou seja, a forma que é sentida, é agora reconhecida. Dá-se-lhe nome, há uma conceptualização (a flor, o livro, o sino…). A sensação adquire agora sentido, o da percepção.

A seguir, na quarta etapa, há uma reacção diante do objecto identificado, portador de um sentido que sugere acção ou reacção. Estabelece-se uma relação com a forma sentida e identificada. Esta relação é condicionada por diferentes tendências ou “factores mentais” latentes. Estes factores são os elementos que animam a vontade e impulsos. É a motivação.

Há assim uma situação na qual a forma foi sentida, nomeada, adquiriu um sentido, em relação ao qual se tem uma acção ou reacção.

O observador desenvolveu-se nas quatro primeiras etapas. A fixação nesta situação enquanto a sua “experiência”, acaba por solidificá-lo (ego). Apropria-se da experiência completamente, e daí resulta um estado de consciência plenamente constituído. O ego é, e vive no mundo particular assim desenvolvido e que se tornou num estado de consciência completamente organizado. É a quinta etapa, a da consciência.
("Le Dharma et la Vie")

Esta estruturação do ego, pela formação das cinco etapas: forma, sensação, percepção, motivação e consciência, repete-se de instante de consciência em instante de consciência. Cada um destes instantes subsiste muito brevemente e depois desaparece, seguido pelo aparecimento de outro. No fim de cada um destes instantes, há uma espécie de dissolução ou morte do ego e dos seus constituintes, e no início de cada um deles, há agregação, nascimento. Há assim uma constante agregação e desagregação do ego, estruturação, desestruturação e reestruturação. O fenómeno produz-se sem parar. È assim o funcionamento do ego, e este processo de nascimento e morte, constitui cada instante de vida.

Para mim, o ego não é uma ferramenta totalmente desnecessária, que deve ser alvo de trabalho eliminatório, para que se possa ascender a um patamar de consciência mais elevado, liberto de julgamento, passivo de acção ou reacção. Não! É antes, uma ferramenta fundamental que apenas deve ser melhorada, limada, trabalhada.
Na minha opinião impregnada de ego, a prova cabal da necessidade deste “filtro de realidade” é, a sua incontrolável existência.
Nasce com os primeiros instantes de vida como a conhecemos, é uma condição de outra condição, humana.
Não obstante, considero que o trabalho de crescimento enquanto ser humano, relacional, individual, mental e espiritual, deve abraçar o melhoramento ou pelo menos, o melhor controlo da influência positiva do ego nas nossas ideias, constatações e acções.
Para mim, o ponto fulcral, está ao nível das motivações, essas sim, podendo ser impregnadas de factores negativos. Aí mesmo é que devo começar o meu trabalho de crescimento e melhoramento do fenómeno perceptivo e consciente.

Não devo "tolerar" as acções negativas, sejam minhas, sejam dos outros.
Ora, às acções negativas, precedem as motivações negativas que, segundo o anteriormente referido, são as tendências ou factores mentais latentes de cada indivíduo. É precisamente aí que deve começar o meu trabalho, na tentativa de entender essas mesmas tendências, observa-las e corrigi-las. Claro que, como qualquer acção, também esta requer vontade, ou motivação, e se as nossas motivações não são as mais “louváveis”, então, nada do que acabamos de ler faz sentido.

4 comentários:

f disse...

Aproveitei para ler com calma vários artigos(post´s) e gostei mto.

Qto ao texto específico "Ego Amigo"...
Acho que deves escrever mais...publicando ou não, é necessáriamente uma decisão tua...mas reconheço na tua escrita um grande valor e vontade de crescer...(prova disso, é este texto base)
Como eu não sabia e fiquei a saber...o crescimento...no contexto do ego...é oficializado com a motivação...não é assim?
assim sendo mtas vezes crescemos...sentimos...sofremos.etc...mas fundamentalmente damo-nos conta de que efectivamente estamos diferentes,(esfera circular integrada do nascimento e da morte)mas numa constante tentativa de descodificar direcções por onde seguimos...reflectindo "o como pensamos..."e por ai fora...

chegando a valente conclusão... de que efectivamente avançamos,mas esse facto não cessa... o crescimento, pelo contrário, faz com que, como fizeste, tenhamos uma posição de tomada de consciencia das fases do processo em si...pelo facto necessário de nos identificarmos, e tornarmos conscientes as causas de nossa real postura perante o que É... a necessidade de aprender... de viver...como um todo.
Mtas vezes não é encarado assim...mas antes a necessidade de aprender...é substituida por uma necessidade de refugiar...de não estar pré-disposto a sentir-se desafiado...e de efectivamente não saber...ou não querer encarar...ora porque encarar não quer dizer aceitar...mas sim modificar...senão então todo que vimos a dizer perderia o sentido...é verdade que é dificil e mtas vezes sentimo-nos "esmagados" literalmente...mas o facto de encararmos, de estarmos presentes...faz com que o processo avançe...por nossa ordem...e presença...
O curioso é q. é infindável e sem tempo...está saga do crescimento, entendimento e da maturidade...dos pontos de vista até nossas mto próprias curiosidades...

Neste momento a visão de que efectivamente avançar...é mto importante...mas neste momento...seria bom...premitir que se compreenda a profundidade de todo este emaranhado... de percepção...para podermos então avançar concluindo com a multidiversidade de maturidades...ora no meu ponto de vista e com tua ajuda...imagina uma esfera...estamos no centro e em toda a esfera ... desse centro partem milhões de fios até a extremidade...(limites do ego)ou(reconhecimento superficial do que conhecemos como nós mesmos) imagina que a extremidade é irregular...pois cada fio não tem a mesma altura, e porquê?...porque cada fio é composto por milhões de esferas ...para cada fio temos o nosso próprio processo de atenção e ambição...ou obsevação...que atravês da identificação...(consc. ou inconsc.)despluta gatilhos...que complementam o processo e o avanço...em correspondencia com o centro,mas se forem encarados... e essa opção passa única exclusivamente por cada um. damos passos para completar um total de fios igualados dá-se uma transformação ainda maior na esfera Total(Nós)e na percepção de si mesmo(Um)...e avançamos para um outro entendimento...ou seja crescemos uma de muitas maturidades...e temos que encarar esses processos e para podermos fundir todos numa só...
Um só... será então somente mais um passo no processo integrado e constante de nascimento e morte...que nos levará mais tarde ou mais cedo a ter que flexibilizar e abrir ao n/ auto exame o nosso total entendimento do que é.
Seria um erro da nossa parte entrar neste caminho achando que é único...como eu próprio tive de aprender... a multidiversidade...do ser humano...e do claro entendimento de sua realidade...teem-me levado a concluir...que mtos nós envoluem consonância...e consequência uns com os outros até estarem prontos para se unir...e se reconhecer...libertando-se...para novamente viver renascer denovo...como uno...deixando que ilusóriamente se divida...até estar pronto (maduro) para se unir(entender) denovo...
Que o processo hoje seja mais consciente não me admira...o que me admira é que de uma forma global não vejam a onde nós está a levar...pelo simples facto de não se completar o processo...encararando o que é.

dpois de ler, escrevi...tá a vista...mto obirgado pelo teu texto e pela oportunidade de podemos expor e discutir sobre este tipo de assuntos.
G.Abraço
B.

Anónimo disse...

Puxa... Vocês são ainda mais elaborados nas racionalizações do que eu. Longe de mim criticar, o assunto é muito sério, mas hoje inclino-me para achar que demasiada mente colocada nestes temas me afasta da realidade. Acredito na consciência e observação do que me rodeia mas sobretudo dos meus actos, pensamentos e reacções ao que me rodeia. Já compliquei mais e tendo hoje a caminhar num caminho de mais simplicidade... mas podem ser fases!?

Abraço forte ao amigo Crina e ao amigo Becas do Amigo Velho

JB

hugo37 disse...

Becas, para saberes, JB é o Beirão.
Este gajo é do c..., eu num t disse?

f disse...

fases!? diria... indispensável...ou elementar meu caro Jorge...

A tua opinião conta e nem sabes quanto...
Como se diz, quando há espaço para mais alguém... mas não se sabe bem quem, nem como...nem porquê...foi mais ou menos...assim...
Encaixas-te perfeitamente...digo eu...e sempre a construir...

Grande Forte Abraço, Hugo e Jorge
B.